“Será a primeira sustentação que eu faço, e logo no Supremo”, dizia a advogada, nervosa, pouco antes de chegar ao microfone. Ela conta que foi a primeira índia a se tornar advogada no Brasil e está acostumada a fazer audiências, mas dessa vez é diferente. “Eu serei a voz dos índios na mais alta Corte do Brasil”, resumiu.
Até hoje, poucos colegas de trabalho vieram de tribos. “Somos cerca de vinte formados no País inteiro, e apenas sete têm carteira da Ordem dos Advogados do Brasil”, informa. Joênia reconhece que “advoga em causa própria” a maior parte do tempo. Isso porque ela trabalha no Conselho Indígena de Roraima (CIR). “Meu trabalho eu faço por amor, porque minha família e meu povo precisam disso. Estou defendendo uma terra que é minha, para a qual pretendo voltar depois desse tempo na cidade”, afirma.
Esse “tempo na cidade” começou quando a menina índia tinha oito anos de idade e a família a levou para estudar em Boa Vista. Foi boa aluna no ensino fundamental e passou no vestibular de Direito na Universidade Federal de Roraima. “Naquela época não havia cotas”, lembra. Durante o curso, ela começou a trabalhar com os direitos dos índios, área em que atua desde então. Em casa, ela já ouve Cristina, a filha de 13 anos, dizer que quer seguir os seus passos. “Eu darei apoio à profissão que meus filhos escolherem, porque as tribos precisam de profissionais como médicos, advogados e tantos outros”, destaca.
Para ela, a Constituição é uma das melhores em garantias aos índios, e trouxe inovações em relação à anterior. “Temos um bonito texto, agora precisamos detalhá-la para funcionar melhor”, adverte.
Fonte: Circom
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